Quadrilhas juninas investem R$ 78 milhões no Ceará, e brincantes pagam até R$ 10 mil para participar

Quem é brincante de quadrilha junina, desde o início do ano, já está preparando a disposição física e o bolso para poder fazer bonito no São João. Neste ano, as quadrilhas cearenses devem movimentar em gastos cerca de R$ 78 milhões.

Segundo a Federação de Quadrilhas Juninas do Ceará (Fequajuce), são mais de 200 grupos filiados no Estado nas categorias infantil e adulto, somando gastos de mais de R$ 40 milhões anuais.

Já a União Junina do Ceará, com 67 quadrilhas afiliadas, estima um gasto de R$ 38 milhões para esta temporada.

Porém, cada junina tem a sua realidade e custos que variam de R$ 1 mil até R$ 10 mil, aproximadamente, para cada brincante. Nestes valores, estão incluídos figurinos, músicos, produtores, luzes, cenários e viagens, entre tantos outros elementos que compõem o espetáculo.

O gerente comercial Charles Diego, 39 anos, é um destes brincantes que, para participar do espetáculo, este ano, gastará R$ 10 mil. Deste montante, o mais caro é o figurino, com valor estimado entre R$ 7 mil e R$ 8 mil.

Há 28 anos no meio junino, ele acredita que todo o valor é um “investimento feito por toda a cultura e amor que sentimos por esse movimento chamado São João”. “(Além do dinheiro investido) perder momentos com família, amigos ou até mesmo no trabalho, se dedicar, ter compromisso, é um leque de coisas que deixamos de fazer, para estar todo ano dançando”.

Junina Babaçu terá custo de R$ 680 mil em 2025

Com 36 anos de história e filiada à União Junina do Ceará, uma das quadrilhas juninas mais premiadas do Ceará, a Junina Babaçu, na qual Charles participa, é também um dos grupos com o orçamento mais alto. Para este ano, o custo anual está previsto em cerca de R$ 680 mil, considerando toda a estrutura e os valores arcados pelos brincantes com figurino, transporte, entre outros.

Para esta temporada, cada brincante precisará quitar um carnê, no valor total de R$ 1.080 e mais duas rifas, que somadas chegam a mais R$ 1 mil. Uma dessas rifas tem metade do valor, ou seja, R$ 250, revestidos para as viagens do grupo. Os brincantes também precisam pagar suas viagens.

Entenda o que está incluso nestes custos que os brincantes pagam:

  • Ensaios em estúdio do grupo musical
  • O grupo musical
  • O custo com transporte de materiais e cenografia nas apresentações
  • Efeitos visuais como iluminação, estouros ou extintores
  • Cenografia da temporada
  • Locação de som para ensaio

Ao todo, a Babaçu possui 207 membros divididos entre 152 brincantes (76 pares),  31 pessoas de produção e atores, 11 diretores, nove músicos e quatro pessoas na equipe de marketing.

Quando começam os trabalhos

Conforme o diretor de Pesquisa, Criação, Produção e Marketing, Taywan Ramires, o trabalho da junina para a temporada do São João 2025 começou em outubro de 2024, com reuniões da equipe de criação e diretoria.

Em dezembro, iniciaram as chamadas do tema já definido, nas redes sociais e, em janeiro, o primeiro encontro com os brincantes e os ensaios.

“Esses eventos servem como um cartão de visita para a temporada. Para eles, vários brincantes produzem figurinos específicos para esses momentos. Costureiros, sapateiros, cabeleireiros e maquiadores são contratados pelos brincantes. Já o grupo desenvolve uma estrutura, a musicalidade, investindo em som, palco, iluminação e apresentação dos destaques”, explica. 

Questionado sobre a profissionalização das quadrilhas juninas, que as levaram a ter esses custos cada vez mais elevados, Ramires afirma que esse é um processo que vem acontecendo de forma orgânica. 

“A Junina Babaçu foi uma das grandes responsáveis de fazer isso. Esse movimento acontece quando trazemos para o São João profissionais que atuam fora do São João para dentro dele. Como os músicos, desenvolvedores temáticos, figurinistas, coreógrafos. Todos esses são artistas e profissionais que se destacam fora do movimento junino e foram somados ao movimento. Esses profissionais elevaram o nível das competições, fazendo com que outros grupos também fossem buscar profissionais no mercado”, comenta. 

Cada grupo com a sua realidade 

Em Itapajé, a Quadrilha Junina Beija-Flor, com uma realidade “de interior”, considera que se cada um dos 44 brincantes (22 pares) tivessem que bancar suas participações, precisariam desembolsar entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil neste ano.

A estimativa foi feita pelo marcador e presidente da junina, Mario Sérgio Mesquita da Costa, o Serginho, 43 anos. “Como somos do interior e a maioria da galera não trabalha ou não possui uma renda fixa, o coletivo é que paga tudo. Na quadrilha Beja-Flor, os brincantes só têm a preocupação de dançar”. 

Ele conta que para acontecer o São João, a diretoria do coletivo realiza um planejamento do que vai ser gasto no ano. Para 2025, a média prevista é de R$ 120 mil no total. 

“A gente acabou de ganhar um edital do Estado, então isso vai suprir parte do nosso custeio deste ano. Além disso, faço empréstimos bancários. Então, o brincante recebe o figurino, os sapatos, os adereços e viaja gratuitamente”.

Serginho destaca também que para acontecer o espetáculo o coletivo corre atrás, faz algumas promoções, arrecada um pouco, mas ainda não o suficiente para custear tudo. “Então, recorremos a esses editais, participando sempre, ganhando um aqui e um acolá, e com isso a gente vai conseguindo colocar a quadrilha e mantendo viva a cultura popular no interior”.

Ao todo, além dos 22 pares, a quadrilha possui 12 profissionais entre costureiras, carpinteiros, e técnicos de efeitos, além de 10 diretores e 20 pessoas na equipe de produção.

Questionado sobre os valores, o presidente afirma que este é um movimento que “ultrapassa a barreira do investimento”.

“Esse projeto já proporcionou cultura a quem nunca pode ter a possibilidade se quer de imaginar em participar. Damos oportunidade a todos os públicos, principalmente para pessoas em vulnerabilidade social, de serem vistas. Então, ao se investir algum valor na realização de sonhos, eles passam a ser mais do que um investimento financeiro e passa a ser uma emoção inexplicável”, comenta.

Profissionalização vem aumentando os custos

Anderson Assunção, presidente da Federação de Quadrilhas Juninas do Ceará (Fequajuce), ressalta que a estimativa de gastos, de cerca de R$ 40 milhões para esta temporada de 2025, é apenas o valor que as quadrilhas usarão para montar e apresentar seus espetáculos.

“Esse investimento só cresce a cada ano, porque os espetáculos se tornam cada vez mais elaborados e o custo da matéria-prima e dos profissionais demandados pelas quadrilhas juninas só aumenta”.

Em 2024, foram quase 200 festivais competitivos de quadrilhas juninas, credenciados na Federação. Estes, ocorrem em mais de 50% dos municípios do Estado, sejam através da gestão pública ou por promotores da iniciativa privada.

Os festejos juninos, de fato, iniciam no último fim de semana de maio, com o concurso de destaques da Fequajuce. Os vencedores das categorias de casal de noivos, rainha e rainha da diversidade adulto, irão representar o Estado nos concursos nacionais de suas categorias.

Também iniciam neste período e se estendem até o fim de julho, os festivais de quadrilha juninas que compõem o São João do Estado do Ceará. “Nosso São João é um dos mais duradouros do Brasil, são 60 dias de muita festa, muita alegria, muitas cores, em comemoração a essa festa maravilhosa”, reforça Assunção.

Já para a União Junina do Ceará, os festejos iniciam, oficialmente, dia 30 de maio, conforme explica a presidente Kelly Lima. No ano passado, foram 44 festivais e, para este ano, a estimativa é de que ocorram 60 festivais filiados à União.

Mesmo com um número bem menor de filiados, se comparado com a Federação, a União Junina também concentra grande volume de gastos, ao todo é estimado R$ 38 milhões. Para Kelly, o aumento de investimento feito pelos grupos, anualmente, tem reflexo na profissionalização do movimento.

“O processo criativo das quadrilhas a cada ano demanda mais e mais profissionais e serviços qualificados. Isso contribui bastante para o aumento do investimento no movimento junino”, aponta.

Segundo ela, a qualificação da cadeia produtiva pressiona os custos. “Conforme se amplia o número de brincantes, a proporção dos espetáculos construídos e a busca de pessoas para apreciação desse folguedo tão importante da cultural tradicional popular do nosso estado. Seja de forma direta ou indireta”.

FONTE: DIARIO DO NORDESTE

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