A Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Joaquim Bastos Gonçalves, localizada em Carnaubal, recém-agraciada com o 1º lugar no World’s Best School Prizes (Prêmio Melhores Escolas do Mundo), pretende expandir as ações voltadas ao desenvolvimento das competências socioemocionais dos alunos. A unidade de ensino concorreu na categoria “Apoiando vidas saudáveis”, com o projeto “Adote um Estudante”, iniciativa voltada à promoção da saúde mental. Com o reconhecimento internacional, a EEMTI terá direito a receber a quantia de US$ 50 mil (aproximadamente R$ 250 mil).
Conforme a gestão da escola, o recurso da premiação deverá ser investido na construção de uma sala de acolhimento. O espaço potencializará o funcionamento do projeto, com instalações físicas e equipamentos apropriados para proporcionar conforto e proteção aos alunos que dela necessitarem, além de favorecer o trabalho dos profissionais voluntários que atuam na causa.
O “Adote um Estudante” foi idealizado em 2021, durante o período da pandemia, na época do retorno às aulas presenciais. Os professores diretores de turma observaram, em sala de aula, que muitos jovens enfrentavam problemas de ansiedade, transtorno de depressão, automutilação, baixa autoestima, dificuldades de comunicação e de socialização.
Para reverter o cenário, o professor de educação física Guilherme Barroso, que também atua como diretor de turma na instituição, sugeriu a criação de um projeto que trabalhasse com o apoio de psicólogos voluntários, de diversas partes do Brasil. Os profissionais ofereceriam atendimentos via Google Meet, possibilitando aos alunos receber assistência de forma individual.
Estratégia
Para concretizar a ideia, Guilherme utilizou-se da mídia social Instagram para entrar em contato com uma rede nacional de psicólogos. O professor conversou com diversos membros daquele grupo, a quem expôs a ação da escola e solicitou apoio. Desde então, cerca de 40 profissionais já prestaram serviços ao projeto. Atualmente, são 12 psicólogos voluntários envolvidos com a ação. Além disso, o “Adote um Estudante” passou a ofertar atividades diferenciadas nos últimos meses, como forma de fortalecer a autoestima dos alunos e a integração social, a exemplo de práticas esportivas e oficinas de teatro, dança, pintura e crochê, também por meio de auxílio voluntário.
“Muitos profissionais da área da saúde mental nos mandam mensagens pelo Instagram, pedindo para aderir ao projeto. O número de alunos interessados em participar também vem aumentando, tanto na psicoterapia como nas oficinas. Queremos que a iniciativa se expanda para outras escolas, pois sabemos que a saúde mental é uma questão muito importante, principalmente nos dias atuais. O projeto transmite cuidado e acolhimento a quem está passando por um momento de dor”, explica Guilherme.
O professor comemora o reconhecimento internacional. “É uma ocasião de muita alegria para toda a comunidade escolar. Nossa maior felicidade é ver os alunos bem, com saúde, sentindo-se melhor em sala de aula e tendo melhor desempenho acadêmico”, ressalta.
Procura
A partir da visibilidade obtida, Guilherme cita que outras organizações educacionais demonstraram o desejo de apropriar-se da ideia do “Adote um Estudante”.
“Tivemos escolas interessadas em aderir, tanto do Ceará, como do estado do Piauí. Ontem, por exemplo, recebi a ligação de uma técnica da Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo, querendo conhecer melhor o projeto, na intenção de levá-lo para lá. E também, de uma educadora de Coimbra, em Portugal, que pretende desenvolver a ação em escolas da periferia da região”, esclarece.
Erivan Correia, de 17 anos, cursa a 2ª série na EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves. O jovem foi atendido pelo projeto, durante o período de três meses, e logo em seguida resolveu tornar-se articulador da ação, auxiliando a desenvolver as atividades para outros alunos. Erivan atua, ainda, na divulgação do “Adote um Estudante” nas mídias sociais e no contato com os psicólogos voluntários.
“Antes do projeto, me via numa realidade completamente diferente da de hoje. Era pouco sociável, não sabia lidar com as emoções, não opinava por medo de julgamentos e tinha momentos de ansiedade. O projeto mudou minha forma de encarar a vida, quando comecei a ver que poderia estar em ambientes sociais e conseguir lidar com minhas emoções. Tenho pouquíssimos momentos de ansiedade e me desenvolvi como aluno, hoje tendo avanço em notas, autoestima alta e vendo o mundo com outro olhar, não mais com desânimo e sem sentido. A experiência foi surreal! Me senti acolhido, amado e percebi o cuidado da escola para com os alunos. A escola não me viu como um número ou como mais um aluno, mas como uma vida que precisava de cuidados”, salienta.
Erivan defende que outros estudantes também possam ter acesso à iniciativa. “Permaneci como beneficiário durante três meses e foi de fato o suficiente para me recompor do momento ruim que estava vivenciando. Os alunos merecem ser vistos com esse olhar de cuidado e amor, como seres que necessitam de atenção, considerando que todos têm problemas, situações complicadas, traumas etc.”, avalia.
O jovem se diz “extremamente feliz, emocionado e lisonjeado” por fazer parte da história do projeto. “Primeiro, por saber que edifica a vida dos alunos. Segundo, por ter sido criado em uma escola pública, de uma cidade não tão grande, e que mostrou que a nossa educação pode ir além, mostrando ao mundo que nosso estado, nossos profissionais e projetos podem alcançar êxito e chegar a um reconhecimento mundial”, finaliza Erivan.
Mobilização
O diretor da EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves, Helton Brito, enfatiza que a gestão busca dar o apoio necessário às atividades do “Adote um Estudante”, assim como a outras ideias apresentadas por alunos e professores, num processo de escuta ativa constante.
“Buscamos promover o engajamento e a socialização dos jovens de diversas formas, assim como procuramos também sensibilizar as famílias. Fazemos um trabalho de equipe, que gera ganhos coletivos”, aponta.
Para que o projeto alcançasse êxito e tivesse boas chances de concorrer ao prêmio, o diretor explica que contou com o auxílio de diversos profissionais da escola. “Até para conseguir transmitir corretamente a ideia do projeto, foi necessária a participação de nossos professores de língua portuguesa e redação, por exemplo. De nada adiantaria ter uma ótima ideia, se ela não tivesse sido bem expressa”, destaca o gestor.
Helton também defende a necessidade de refletir sobre a vitória. “O projeto sensibilizou o mundo porque todos foram afetados pela pandemia, com relação às emoções. Procurar meios e soluções para amenizar esse processo é o grande lance do ‘Adote um Estudante’. A questão midiática deve servir para gerar reflexão e incentivar a existência de outros projetos ligados à saúde mental dos jovens. A escola é também um espaço do cuidar. As competências socioemocionais são fundamentais para a aquisição de outras competências”, complementa Helton.
FONTE: CEARA.GOV.BR